Relatório

O sexto relatório climático do Brasil da Howden Re acompanha o aumento da variabilidade e da resiliência antes da COP30

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A Howden Re Brasil, em colaboração com a MeteoIA, lançou a sexta edição do seu relatório Panorama climático no Brasil e no mundo, que apresenta uma avaliação das condições climáticas do país de junho a agosto de 2025. Esta última edição destaca um trimestre marcado por extremos contrastantes: chuvas intensas e recuperação dos reservatórios no Sul, agravamento da seca em partes do Nordeste e uma série de ondas de frio e tempestades de granizo que testaram a resiliência agrícola e energética. Isso ocorre em um contexto de intensificação da atividade climática global, à medida que se aproxima a COP30 em Belém, Brasil.

"Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP30, este relatório reforça a urgência de transformar dados em ação”, disse Antônio Jorge da Mota Rodrigues, Head de Treaty da Howden Re Brasil. “O sistema climático não é mais definido por padrões lineares, mas por extremos sobrepostos. Na Howden Re, estamos comprometidos em usar análises para ajudar a moldar soluções que antecipem riscos, apoiem finanças sustentáveis e fortaleçam a resiliência em todos os setores da sociedade."

A variabilidade climática continua: enchentes, geadas e ondas de calor

De junho a agosto de 2025, o Brasil passou por várias condições climáticas extremas. 

  • Junho: O modelo MIA Climate previu com precisão chuvas acima da média em partes do Sudeste e Mato Grosso do Sul, o que foi confirmado pelos dados ERA5. No Rio Grande do Sul, sistemas frontais recorrentes e ciclones extratropicais causaram chuvas fortes, com rios novamente ultrapassando os limites de enchentes. 
  • Julho: Anomalias negativas nas chuvas dominaram o Centro-Sul, enquanto o Norte permaneceu mais úmido que a média sob a influência da Zona de Convergência Intertropical (ITCZ). Durante o mesmo mês, tempestades marítimas e granizo recordes foram registrados em Minas Gerais, danificando centenas de hectares de plantações de café. 
  • Agosto: A precipitação ficou próxima do normal na maioria das regiões, embora uma forte frente fria no final do mês tenha trazido mais de 200 milímetros de chuva para partes do Sul. Massas de ar polar causaram geadas nas terras altas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, afetando as culturas de inverno e a produção de café. Em todo o país, dados da Defesa Civil registraram mais de 12.000 pessoas desabrigadas, 52.000 deslocadas e 547 feridas como resultado de enchentes, deslizamentos de terra e tempestades entre junho e meados de agosto.

Leia o relatório

Capa relatório "Panorama climático no Brasil e no mundo"

Seca e mudanças hidrológicas

O monitoramento da seca para meados de 2025 revela um quadro nacional misto. As condições melhoraram no Sul e no Centro-Oeste após fortes chuvas em maio, que restauraram rios e reservatórios. No entanto, as condições de seca pioraram no Nordeste, com seca extrema registrada na Bahia e no Piauí e seca severa se espalhando por partes de São Paulo e Santa Catarina. Em agosto, o subsistema de reservatórios do sul havia subido acentuadamente de 33,5% em maio para 89,7%, enquanto os níveis de armazenamento no Nordeste caíram para 59% e o subsistema Sudeste/Centro-Oeste permaneceu em torno de 57%. Essa recuperação desigual destaca a estreita interdependência entre água, energia e agricultura. O nível 2 da bandeira tarifária vermelha permaneceu em vigor até setembro, uma vez que a produção de energia hidrelétrica continuou enfrentando pressão da demanda.

Perspectivas para a primavera de 2025: baixa previsibilidade em meio à transição

De acordo com o modelo MIA Climate da MeteoIA, os próximos meses, de setembro a novembro de 2025, serão influenciados por condições neutras do El Niño-Oscilação Sul (ENOS), com cerca de 50% de chance de transição para um La Niña fraco. Uma Oscilação Antártica Positiva (AAO) e o aquecimento contínuo no Atlântico Norte também estão moldando a previsão. 

Precipitação: Previsão de precipitação abaixo da média no Centro-Oeste, Sudeste, Paraná e partes do Pará em setembro. Condições mais úmidas são prováveis em outubro no Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul, seguidas por um padrão mais seco em novembro. 

Temperatura: Espera-se que as temperaturas máximas e mínimas permaneçam ligeiramente acima da média na maioria das regiões, particularmente no Sul no final da temporada. Isso pode aumentar o estresse térmico nas culturas e contribuir para temperaturas urbanas mais altas. O relatório observa que as diferenças entre modelos baseados em IA e modelos dinâmicos, como o C3S–ECMWF, continuam a criar incerteza para o início da estação chuvosa de 2025–26.

Agricultura: rendimentos recordes apesar das adversidades climáticas

O setor agrícola brasileiro demonstrou resiliência apesar das condições desafiadoras. A primeira safra de milho atingiu 131,97 milhões de toneladas, um aumento de 14% em relação ao ano anterior, apoiada por ganhos de produtividade e melhor planejamento. A segunda safra, ou safrinha, atingiu um recorde de 109,57 milhões de toneladas, com Mato Grosso do Sul registrando um recorde histórico de 14,2 milhões de toneladas, apesar das perdas causadas pelo vento e pela geada. O mapeamento de risco composto da MeteoIA identificou corretamente as zonas de alto risco no sul do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, confirmando os alertas precoces sobre os efeitos combinados de temperaturas extremas e ventos fortes. Olhando para o futuro, espera-se que a safra de soja de 2025-26 tenha condições favoráveis de cultivo em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, enquanto Minas Gerais e o norte do Maranhão podem enfrentar um risco maior devido às chuvas inconsistentes e às altas temperaturas.